sexta-feira, 5 de setembro de 2008

NAMOROFOBIA (DANUSA LEÃO)



Namorofobia
(Danusa Leão)

A praga da década são os namorofóbicos. Homens e mulheres estão cada vez mais arredios ao título de namorado, mesmo que, na prática, namorem. Uma coisa muito estranha. Saem, fazem sexo, vão ao cinema, freqüentam as respectivas casas, tudo numa freqüência de namorados, mas não admitem. Têm alguns que até têm o cuidado de quebrar a constância só para não criar jurisprudência, como se diria em juridiquês. Podem sair várias vezes numa semana, mas aí tem que dar uns intervalos regulamentares,
que é para não parecer namoro.
- É tua namorada? - Não, a gente tá ficando. Ficando aonde, cara pálida? Negam o namoro até a morte, como se namoro fosse casamento, como se o título fizesse o monge, como se namorar fosse outorgar um título de propriedade.
Devem temer que ao chamar de namorada (o) a criatura se transforme numa dominadora sádica, que vai arrastar a presa
para o covil, fazer enxoval, comprar alianças, apresentar para a parentada toda e falar de casamento - não vai. Não a menos que seja um (a) psicopata. Mais pata que psico.
Namorar é leve, é bom, é gostoso. Se interessar pelo outro
e ligar pra ver se está tudo bem, pode não ser cobrança,
pode ser saudade, vontade de estar junto, de dividir.
A coisa é tão grave e levada a extremos que pode tudo, menos chamar de namorado. Pode viajar junto, dormir junto, até ir ao supermercado junto (há meses!), mas não se pode pronunciar a palavra macabra: NAMORO.
Antes, o problema era outro: CASAMENTO. Ui. Vá de retro! Cruz credo! Desafasta. Agora é o namoro, que deveria ser o test drive, a experiência, com toda a leveza do mundo. Daqui a pouco, o problema vai ser qualquer tipo de relacionamento que possa durar mais que uma noite e significar um envolvimento maior que saber o nome. Do que o medo? Da responsabilidade? Da cobrança? De gostar?
Sempre que a gente se envolve com alguém tem que ter cuidado. Não é porque "a gente tá ficando" que não se deve respeito, carinho e cuidado. Não é porque "a gente tá ficando" que você vai para cama num dia e no outro finge que não conhece e isso não dói ou que não é filhadaputice. Não é porque "a gente tá ficando" que o outro passa a ser mais um número no rol das experiências sexuais - e só. Ou é?
Tô ficando velho? Se estiver, paciência.
Comigo, só namorando...

6 comentários:

Anônimo disse...

Adriana, já vi que o seu blog vai fazer sucesso.
O tema inicial é bastante interessante.
Já passei em muito dessa fase, aliás já passei por todas elas, mas tenho três filhos adultos, e já vi comentários sobre esse tipo de relacionamento.
Sou do tempo em que existiam as seguintes fases:
1)"flirt" (paquera, hoje);
2)namoro;
3)namoro sério;
4) noivado (durava no mínimo um ano ou dois) e, finalmente
4) o casamento (coisa séria, de véu e grinalda com direito a anjos cantando)...
Ah, ia esquecendo:
5) Lua-de-mel (que é hoje o ficar...)

E as coisas me pareciam melhores do que são hoje em dia.
Um abraço e ótimo final de semana.

Anônimo disse...

Concordo com a Danusa, os valores andam invertidos. Eu acho que, de certa maneira, o "ficar" matou o melhor do namorar. Bom domingo, Adriana.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Minha irma, que texto ótimo para ser discutido sobre os novos relacionamentos. Pois é, a coisa muda e pega, pega feio para a nova geracao que tb sonha em casar e usar bambolê no dedo, mas tem medo de de afirmar essas coisas.

Beijao

Anônimo disse...

Adriana, o MÁRIO, com o seu grande poder de síntese disse tudo em poucas linhas.

O namorado(a) de ontem é o "ficante" de hoje. Uma pena, sem dúvida.
Um abraço, e ótima semna.

Aninha Pontes disse...

Adriana, a Danusa é ótima. Não tinha lido essa crônica dela.
Mas vou te falar, supimpa heim?
Hoje qualquer relacionamento que indique que há carinho amor, as pessoas fazem questão de descartar, é feio, está fora de moda.
Antes, os casais, sentava m, conversavam, discutiam seus problemas, chegavam à um consenso. Hoje isto mudou de nome, virou "discutir a relação", e assusta mais que o capeta com se garfo em punho.
É isso, medo.
Beijos

Jaqueline disse...

Adorei o seu blog
trabalhei esse assunto com os meus alunos em sala de aula e foi muito bem repercutido
é interessante que essa juventudo de hoje, principalmente os que se encontram na idade do colegial, sobre esse tipo de relacionamento que está sendo criado na sociedade de hoje.
Obrigada pelo belo texto.
Espero que continua essa óti,a escritora que é
bjus